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12/02/2018

As Verdadeiras Raízes dos Portuguêses V: A Cónii-Lusitânia Não É A Ibéria!

A Lusitânia Não É A Ibéria
A Ibéria Não É A Lusitânia!



« ...a Lusitânia natural é todo o oeste peninsular. Vai do Promontório Sacro(Cónia/Algarve), para além do Minho, até à vertente norte-atlântica, ... A Lusitânia é o país dos quatro rios: Guadiana, Tejo, Douro e Minho; a Ibéria é a região de um só rio: o Ebro. O Ebro unifica, os quatro Lusitanos diversificam, de modo que é viável assinalar uma Lusitânia minhota (brácaro-lucense), uma Lusitânia duriense, uma Lusitânia tagana, e uma Lusitânia guadiânica. ...»




Já há anos que tenho guardado, sempre Actuante e Actual, no meu Baú dos Tesoiros, o texto genial e absolutamente esclarecedôr, Definitivo, dum grande Filósofo e Historiadôr, ou Historiadôr-Filósofo Português, o Professôr Pinharanda Gômes .




“A Patrologia Lusitâna”

 A Lusitânia não é a Ibéria, a Ibéria não é a Lusitânia. Comete êrro de juízo‘ de facto e de valôr, a corrente histórica e política que força a realidade até sêr capaz de metêr a Lusitânia na União Ibérica, por não compreendêr que não há recta União Ibérica, mas correcta União Hispânica. 




Na União Hispânica cabem a Lusitânia e a Ibéria, enquanto que  na União Ibérica só cabem os povos iberos, ou da Ibéria. A tese iberista releva do projecto de sujeição da vertente Atlântica à vertente Mediterrânica e, por via dela, da sujeição dos povos da periferia ao centro impulsôr do iberismo. A União Ibérica, tornada dôce paliativo, é na ordem política o projecto anti-autonomista do Duque de Olivares: Braga dominada por Tolêdo.



 A Hispânia tem quatro vertentes: a vertente atlântico-cantábrica, especiosa, ainda que aparentada com a vertente pirenaica e com a vertente lusitâna; a vertente mediterrânica (ibérica); a vertente pirenaica, com Aragão, e que por si mesmo é também específica; e a vertente lusitano-atlântica, em que amplamente se insere a galêga ou galaica. É supérfluo considerar as vertentes pirenaica e cantábrica, porque a díade dualista se põe sómente quanto às vertentes ibérica e lusitâna. Os geógrafos que vieram de fora nunca se enganaram e, por isso, jamais confundiram Lusitânia e Ibéria.



A Lusitânia é a vertente atlântica – “Lusitânia… que mare Atlanticum spectat” 7, enquanto que  a Ibéria é a região do Ebro, que o Mediterrâneo contempla. Em sentido figurado, diríamos que a Ibéria olha para Oriente, enquanto que  a  Lusitânia olha para onde o mar começa e a terra se acaba, por repouso do Sol Occitânico. A diferença geográfica não inclui uma diferença cultural, (dos círculos culturais de Frobenius sabemos como em África e na Europa há culturas análogas, ainda que Frobenius haja sublinhado que importa não confundir analogia com homologia), mas deve suscitar a vocação para definir identidade geográfica, identidade étnica, e identidade existencial. Lusitânia e Ibéria são duas regiões distintas, tão significativas uma como a outra, mas nem a Ibéria é fusível para a Lusitânia, nem há Lusitânia fusionável com Ibéria. 



A pré-história dos povos peninsulares é diferente, mas torna-se sintomático o nível diferencial entre projecto ibérico e excurso lusitâno, como se a Lusitânia e a Ibéria houvessem sido bêrços de duas diferentes raças humanas, como queria o enciclopedismo evolucionista 8. Na diversidade, as duas versões antigas projectaram-se sempre num dualismo geográfico e histórico, de modo que à díade nómica da Lusitânia / Ibéria correspondeu a díade, algumas vezes antinómica, de Portugal / Espanha. Oliveira Martins não têve pejo em considerar a adopção do êrro, provindo de muito antes, mas aprofundado em Herculano, da confusão de Ibéria e Lusitânia, o que lhe valeu as acerbas críticas de Teófilo Braga, apoiado na geografia clássica, sobretudo na Púnica, de Sílio Itálico, que soube salientar a longa distinção entre Iberos e Celtas e, por concomitância, entre Iberos e Lusitanos, os que ocuparam uma região afastada e diferenciada, onde permaneceram e perduraram como Lusitanos. A Lusitânia é algo de comprimido a oeste, mas é também algo de não assimilado a leste .



 A Hispânia é um microcosmos, disse o geógrafo Méndez Silva, onde há de tudo e nada falta, o que já antes dele haviam visto os apologistas das esquadras mafamédicas. Microcosmos, cume da Europa, cabeça do boi, é envolvida na sua maior extensão pelo Rio Oceano, Atlântico identificado, apesar do jogo de estilo elaborado por Homero, ou pelos homeríadas, mas reino microcosmos divertido em dois olhares: o limite atlântico, span, sepharad, ao modo fenício e hebraico, que é a nossa finisterra, como que a sugerir que Hispânia é a Lusitânia com as terras do meio que olham para o mar do meio das terras, de onde se gera o dualismo atlântico-mediterrânico da Hispânia, mas onde por igual se gera o atlantismo da Lusitânia 10. As diversidades regionais podem não servir de base a divisões de território, nem são de molde a criar regionalismos vinculados a um exclusivismo étnico, mas, no caso Lusitânia/Ibéria, houve lugar a uma configuração excêntrica, centrífuga e oceânica, de tal modo que seria sensato postular que o nacionalismo das nações hispânicas, incluída a nação portuguesa, encontra raízes e águas acolhedoras nos regionalismos. 



A afirmação de Portugal é um acto de nacionalismo; mas a afirmação da Lusitânia prevalece no acto do regionalismo. A Lusitânia afirma-se pagus, terra nostra, perante a urbe mediterrânica. A extensa teoria literária e político-ideológica da antítese Castela/Portugal, mormente elaborada no ciclo de 1580/1700 não é um fenómeno de erupção palaciana; ela vem de longe, e os ideólogos palacianos limitaram-se a pôr em letra de ler, ou em papel de prelo, uma interpretação de mitos, de imagens avoengas.


  Lusitânia situa-se entre Ibéria e Oceano, ou, na configuração pré-romana, numa forma quadrangular que o domínio romano por considerações estratégicas encurtou, ao dividir a Hispânia em três províncias, a Lusitânia (diminuída da Galécia), a Tarraconense e a Bética. Das três províncias, a que corresponde ao vector do iberismo é a Tarraconense, porque Tarracona, pago ibérico, estende os elos até ao Atlântico, subjugando a Galiza e, o mais curioso a região dos Brácaros. A divisão provincial romana carece de toda a lógica étnico-cultural, mas abunda em intencionalidade dominativa. Tarracona é a Ibéria tal como os iberistas sonham: uma grande província absorvente das que lhe ficam, diminuídas, a seus pés, a Bética e a Lusitânia. A estratégia romana elaborava com base em interpretações comprometidas, pois, com efeito, Estrabão, que era mais submisso do que Mela, confundira Iberos e Lusitanos, ainda que afirmasse serem, os Lusitanos, os mais fortes dos Iberos





11. Estrabão tem interesse em identificar Iberos e Lusos para justificar a extensão da Ibéria tarraconense até à Lusitânia bracarense e lucense; Pompónio Mela sabe da forte identidade lusitana face à Ibéria, e convém-lhe sujeitar a fortaleza da finisterra à esperteza da mediterra. Ao não compreender o jogo de intenções, Herculano acabaria por cair na tese negativa da identidade nacional com base regional, por oposição a quem vira melhor do que ele, Bernardo de Brito e André de Resende — o que, aliás, vem já dito em Leite de Vasconcellos 12.
 
A Lusitânia Romana é uma Lusitânia diminuída talhada a esquadro e régua, segundo o interesse dominacional do império, a Lusitânia natural é todo o oeste peninsular. Vai do Promontório Sacro, para além do Minho, até à vertente norte-atlântica, e do oeste atlântico até bem dentro: incluí, pelo menos, Mérida e grande parte da Estremadura, por isso chamada Extrema: a fronteira da Lusitânia com a Ibéria.  
A Lusitânia é o país dos quatro rios: Guadiana, Tejo, Douro e Minho; a Ibéria é a região de um só rio: o Ebro. O Ebro unifica, os quatro Lusitanos diversificam, de modo que é viável assinalar uma Lusitânia minhota (brácaro-lucense), uma Lusitânia duriense, uma Lusitânia tagana, e uma Lusitânia guadiânica.

Ninguém sabe de onde vem o nome de Lusitânia. Há muitas hipóteses, todas por igual verosímeis, a mor parte delas mais provável do que demonstrável.  ...»


https://ibericos.wordpress.com/2008/05/26/pinharanda-gomes-a-patrologia-lusitana/



 

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