Esta subtil confusão , foi sendo introduzida nos nossos genes e nos nossos pensamentos (digo nosso pois os nossos irmãos não-portuguêses desta gloriosa Península da Hispânia também assim o pensam ) dêsde a época romana com a divisão/definição administrativa artificial da Lusitânia, e continuada astutamente pêlos reis de "espanha" com a tentativa constante de reunir pêla força , como fizeram com as outras culturas da Hispânia , Portugal á corôa de Madrid .
Ainda hoje , a subtil confusão de designar a Espanha , como a parte da Península que não é Portugal , permanece para muita gente em Portugal , assim como dizer que , na Ibéria fala-se o "espanhol" , quando na realidade se fala o CASTELHANO , a língua de Castela , centro político da Ibéria , ou "espanha" .
A Espanha , é a Hispânia , ou seja , a Península na sua totalidade , aonde Portugal tem lugar por direito ancestral e natural .
Uma língua como o "espanhol" , não existe ... teria que sêr algo como o Esperanto , reunindo em si , o melhor de cada língua de cada Nação , das várias que formam a Espanha ou Península Hispânica .
Por isso , sendo Lusitanos e Portuguêses ( com muito Orgullho !) Independentes , somos realmente Espanhóis , habitantes da Península da Hispânia .
Mas , ninguém melhor que mestre Pinharanda Gomes , para Pôr os Pontos nos iiS !
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Pinharanda Gomes: “A patrologia lusitana”
26 05 2008Pinharanda Gomes.
(excerto da História da Filosofia Portuguesa)
¶ A Lusitânia não é Ibéria, a Ibéria não é Lusitânia. Comete erro de juízo‘ de facto e de valor, a corrente histórica e política que força a realidade até ser capaz de meter a Lusitânia na União Ibérica, por não compreender que não há recta União Ibérica, mas correcta União Hispânica. Na União Hispânica cabem Lusitânia e Ibéria, enquanto na União Ibérica só cabem os povos iberos, ou da Ibéria. A tese iberista releva do projecto de sujeição da vertente atlântica à vertente mediterrânica e, por via dela, da sujeição dos povos da periferia ao centro impulsor do iberismo. A União Ibérica, tornada doce paliativo, é na ordem política o projecto anti-autonomista do Duque de Olivares: Braga dominada por Toledo.
¶ A Hispânia tem quatro vertentes: a vertente atlântico-cantábrica, especiosa, ainda que aparentada com a vertente pirenaica e com a vertente lusitana; a vertente mediterrânica (ibérica); a vertente pirenaica, com Aragão, e que por si mesmo é também específica; e a vertente lusitano-atlântica, em que amplamente se insere a galega ou galaica. É supérfluo considerar as vertentes pirenaica e cantábrica, porque a díade dualista se põe somente quanto às vertentes ibérica e lusitana. Os geógrafos que vieram de fora nunca se enganaram e, por isso, jamais confundiram Lusitânia e Ibéria. A Lusitânia é a vertente atlântica – “Lusitânia… que mare Atlanticum spectat” 7, enquanto a Ibéria é a região do Ebro, que o Mediterrâneo contempla. Em sentido figurado, diríamos que a Ibéria olha para Oriente, enquanto a Lusitânia olha para onde o mar começa e a terra se acaba, por repouso do Sol ocitânico. A diferença geográfica não inclui uma diferença cultural, (dos círculos culturais de Frobenius sabemos como em África e na Europa há culturas análogas, ainda que Frobenius haja sublinhado que importa não confundir analogia com homologia), mas deve suscitar a vocação para definir identidade geográfica, identidade étnica, e identidade existencial. Lusitânia e Ibéria são duas regiões distintas, tão significativas uma como a outra, mas nem a Ibéria é fusível para a Lusitânia, nem há Lusitânia fusionável com Ibéria. A pré-história dos povos peninsulares é diferente, mas torna-se sintomático o nível diferencial entre projecto ibérico e excurso lusitano, como se a Lusitânia e a Ibéria houvessem sido berços de duas diferentes raças humanas, como queria o enciclopedismo evolucionista 8. Na diversidade, as duas versões antigas projectaram-se sempre num dualismo geográfico e histórico, de modo que à díade nómica da Lusitânia / Ibéria correspondeu a díade, algumas vezes antinómica, de Portugal / Espanha. Oliveira Martins não teve pejo em considerar a adopção do erro, provindo de muito antes, mas aprofundado em Herculano, da confusão de Ibéria e Lusitânia, o que lhe valeu as acerbas críticas de Teófilo Braga, apoiado na geografia clássica, sobretudo na Púnica, de Sílio Itálico, que soube salientar a longa distinção entre Iberos e Celtas e, por concomitância, entre Iberos e Lusitanos, os que ocuparam uma região afastada e diferenciada, onde permaneceram e perduraram como Lusitanos. A Lusitânia é algo de comprimido a oeste, mas é também algo de não assimilado a leste 9.
¶ A Hispânia é um microcosmos, disse o geógrafo Méndez Silva, onde há de tudo e nada falta, o que já antes dele haviam visto os apologistas das esquadras mafamédicas. Microcosmos, cume da Europa, cabeça do boi, é envolvida na sua maior extensão pelo Rio Oceano, Atlântico identificado, apesar do jogo de estilo elaborado por Homero, ou pelos homeríadas, mas reino microcosmos divertido em dois olhares: o limite atlântico, span, sepharad, ao modo fenício e hebraico, que é a nossa finisterra, como que a sugerir que Hispânia é a Lusitânia com as terras do meio que olham para o mar do meio das terras, de onde se gera o dualismo atlântico-mediterrânico da Hispânia, mas onde por igual se gera o atlantismo da Lusitânia 10. As diversidades regionais podem não servir de base a divisões de território, nem são de molde a criar regionalismos vinculados a um exclusivismo étnico, mas, no caso Lusitânia/Ibéria, houve lugar a uma configuração excêntrica, centrífuga e oceânica, de tal modo que seria sensato postular que o nacionalismo das nações hispânicas, incluída a nação portuguesa, encontra raízes e águas acolhedoras nos regionalismos. A afirmação de Portugal é um acto de nacionalismo; mas a afirmação da Lusitânia prevalece no acto do regionalismo. A Lusitânia afirma-se pagus, terra nostra, perante a urbe mediterrânica. A extensa teoria literária e político-ideológica da antítese Castela/Portugal, mormente elaborada no ciclo de 1580/1700 não é um fenómeno de erupção palaciana; ela vem de longe, e os ideólogos palacianos limitaram-se a pôr em letra de ler, ou em papel de prelo, uma interpretação de mitos, de imagens avoengas.
¶ Lusitânia situa-se entre Ibéria e Oceano, ou, na configuração pré-romana, numa forma quadrangular que o domínio romano por considerações estratégicas encurtou, ao dividir a Hispânia em três províncias, a Lusitânia (diminuída da Galécia), a Tarraconense e a Bética. Das três províncias, a que corresponde ao vector do iberismo é a Tarraconense, porque Tarracona, pago ibérico, estende os elos até ao Atlântico, subjugando a Galiza e, o mais curioso a região dos Brácaros. A divisão provincial romana carece de toda a lógica étnico-cultural, mas abunda em intencionalidade dominativa. Tarracona é a Ibéria tal como os iberistas sonham: uma grande província absorvente das que lhe ficam, diminuídas, a seus pés, a Bética e a Lusitânia. A estratégia romana elaborava com base em interpretações comprometidas, pois, com efeito, Estrabão, que era mais submisso do que Mela, confundira Iberos e Lusitanos, ainda que afirmasse serem, os Lusitanos, os mais fortes dos Iberos 11. Estrabão tem interesse em identificar Iberos e Lusos para justificar a extensão da Ibéria tarraconense até à Lusitânia bracarense e lucense; Pompónio Mela sabe da forte identidade lusitana face à Ibéria, e convém-lhe sujeitar a fortaleza da finisterra à esperteza da mediterra. Ao não compreender o jogo de intenções, Herculano acabaria por cair na tese negativa da identidade nacional com base regional, por oposição a quem vira melhor do que ele, Bernardo de Brito e André de Resende — o que, aliás, vem já dito em Leite de Vasconcellos 12. A Lusitânia Romana é uma Lusitânia diminuída talhada a esquadro e régua, segundo o interesse dominacional do império, a Lusitânia natural é todo o oeste peninsular. Vai do Promontório Sacro, para além do Minho, até à vertente norte-atlântica, e do oeste atlântico até bem dentro: incluí, pelo menos, Mérida e grande parte da Estremadura, por isso chamada Extrema: a fronteira da Lusitânia com a Ibéria. A Lusitânia é o país dos quatro rios: Guadiana, Tejo, Douro e Minho; a Ibéria é a região de um só rio: o Ebro. O Ebro unifica, os quatro Lusitanos diversificam, de modo que é viável assinalar uma Lusitânia minhota (brácaro-lucense), uma Lusitânia duriense, uma Lusitânia tagana, e uma Lusitânia guadiânica.
¶ Ninguém sabe de onde vem o nome de Lusitânia. Há muitas hipóteses, todas por igual verosímeis, a mor parte delas mais provável do que demonstrável.
¶ A pesquisa da história das origens, fenómeno humanista, é coetânea do Renascimento. Enquanto o primeiro Renascimento indaga as matrizes clássicas, o Renascimento do século XVI tende a transferir do plano clássico para o plano antigo das autoctonias, pelo que o Ocidente assiste a uma espécie de movimento renascentista de fundo e propósito nacionalista, de algum modo oposto ao renascentismo de fundo macro-cultural europeu. Neste quadro quinhentista, “o maior e mais judicioso antiquário português do século XVI” 13 foi o humanista André de Resende, cujo gosto pela erudição clássica o orientou para a indagação dos valores da sua terra, como factores reais, a par dos clássicos grego e romano. O De Antiquitatibus Lusitaniae (1593) continua sendo o pórtico da história lusitana antiga, pórtico esse por onde discorreram os geógrafos e antropólogos do século XVII, desde Bernardo de Brito, (cuja parte primeira da Monarquia Lusitana alarga os conhecimentos de Resende, por recurso a Laimundo Ortega) a Faria e Sousa, a Rodrigo Méndez Silva, e a Gaspar Estaço (+ 1626), bem como a Teodósio de Bragança, que as crónicas registam como um dos mais curiosos autores do seu tempo, em matéria lusitana 14.
Bernardo de Brito.
¶ As ciências da antiguidade lusitana progrediram em monografias desde o século XVI até à síntese elaborada no primeiro quartel do nosso século por Leite de Vasconcellos mas, depois deste, vive-se uma nova fase monográfica, analítica e pormenorística, já a carecer de síntese ampliada.
¶ A tese mais aceite é a de que os Lusitanos eram um povo pré-celta, ocupante, nativo ou imigrado, da região da Lusitânia. Os antropólogos identificam outros povos, a que os antigos chamam raças, v. g., cúnios, taganos, transcudanos, etc., mas as designações não correspondem a etnias rácicas, identificam apenas etnias regionais. Transcudanos eram, por exemplo, somente os lusitanos de Ribacoa; e o mesmo dos taganos — os lusitanos do Tejo. Estas designações serviam para identificar núcleos populacionais habitando uma determinada região. Não designam nem nominam povos muito diferentes, apesar das eventuais variantes heteroétnicas, tal como sucede em nossos dias entre beirões, minhotos, saloios, alentejanos e algarvios. O toponímico sobrepõe-se ao antroponímico, mas não o subverte, nem cria diferenças desidentificativas. »
¶ A Lusitânia não é Ibéria, a Ibéria não é Lusitânia. Comete erro de juízo‘ de facto e de valor, a corrente histórica e política que força a realidade até ser capaz de meter a Lusitânia na União Ibérica, por não compreender que não há recta União Ibérica, mas correcta União Hispânica. Na União Hispânica cabem Lusitânia e Ibéria, enquanto na União Ibérica só cabem os povos iberos, ou da Ibéria. A tese iberista releva do projecto de sujeição da vertente atlântica à vertente mediterrânica e, por via dela, da sujeição dos povos da periferia ao centro impulsor do iberismo. A União Ibérica, tornada doce paliativo, é na ordem política o projecto anti-autonomista do Duque de Olivares: Braga dominada por Toledo.
¶ A Hispânia tem quatro vertentes: a vertente atlântico-cantábrica, especiosa, ainda que aparentada com a vertente pirenaica e com a vertente lusitana; a vertente mediterrânica (ibérica); a vertente pirenaica, com Aragão, e que por si mesmo é também específica; e a vertente lusitano-atlântica, em que amplamente se insere a galega ou galaica. É supérfluo considerar as vertentes pirenaica e cantábrica, porque a díade dualista se põe somente quanto às vertentes ibérica e lusitana. Os geógrafos que vieram de fora nunca se enganaram e, por isso, jamais confundiram Lusitânia e Ibéria. A Lusitânia é a vertente atlântica – “Lusitânia… que mare Atlanticum spectat” 7, enquanto a Ibéria é a região do Ebro, que o Mediterrâneo contempla. Em sentido figurado, diríamos que a Ibéria olha para Oriente, enquanto a Lusitânia olha para onde o mar começa e a terra se acaba, por repouso do Sol ocitânico. A diferença geográfica não inclui uma diferença cultural, (dos círculos culturais de Frobenius sabemos como em África e na Europa há culturas análogas, ainda que Frobenius haja sublinhado que importa não confundir analogia com homologia), mas deve suscitar a vocação para definir identidade geográfica, identidade étnica, e identidade existencial. Lusitânia e Ibéria são duas regiões distintas, tão significativas uma como a outra, mas nem a Ibéria é fusível para a Lusitânia, nem há Lusitânia fusionável com Ibéria. A pré-história dos povos peninsulares é diferente, mas torna-se sintomático o nível diferencial entre projecto ibérico e excurso lusitano, como se a Lusitânia e a Ibéria houvessem sido berços de duas diferentes raças humanas, como queria o enciclopedismo evolucionista 8. Na diversidade, as duas versões antigas projectaram-se sempre num dualismo geográfico e histórico, de modo que à díade nómica da Lusitânia / Ibéria correspondeu a díade, algumas vezes antinómica, de Portugal / Espanha. Oliveira Martins não teve pejo em considerar a adopção do erro, provindo de muito antes, mas aprofundado em Herculano, da confusão de Ibéria e Lusitânia, o que lhe valeu as acerbas críticas de Teófilo Braga, apoiado na geografia clássica, sobretudo na Púnica, de Sílio Itálico, que soube salientar a longa distinção entre Iberos e Celtas e, por concomitância, entre Iberos e Lusitanos, os que ocuparam uma região afastada e diferenciada, onde permaneceram e perduraram como Lusitanos. A Lusitânia é algo de comprimido a oeste, mas é também algo de não assimilado a leste 9.
¶ A Hispânia é um microcosmos, disse o geógrafo Méndez Silva, onde há de tudo e nada falta, o que já antes dele haviam visto os apologistas das esquadras mafamédicas. Microcosmos, cume da Europa, cabeça do boi, é envolvida na sua maior extensão pelo Rio Oceano, Atlântico identificado, apesar do jogo de estilo elaborado por Homero, ou pelos homeríadas, mas reino microcosmos divertido em dois olhares: o limite atlântico, span, sepharad, ao modo fenício e hebraico, que é a nossa finisterra, como que a sugerir que Hispânia é a Lusitânia com as terras do meio que olham para o mar do meio das terras, de onde se gera o dualismo atlântico-mediterrânico da Hispânia, mas onde por igual se gera o atlantismo da Lusitânia 10. As diversidades regionais podem não servir de base a divisões de território, nem são de molde a criar regionalismos vinculados a um exclusivismo étnico, mas, no caso Lusitânia/Ibéria, houve lugar a uma configuração excêntrica, centrífuga e oceânica, de tal modo que seria sensato postular que o nacionalismo das nações hispânicas, incluída a nação portuguesa, encontra raízes e águas acolhedoras nos regionalismos. A afirmação de Portugal é um acto de nacionalismo; mas a afirmação da Lusitânia prevalece no acto do regionalismo. A Lusitânia afirma-se pagus, terra nostra, perante a urbe mediterrânica. A extensa teoria literária e político-ideológica da antítese Castela/Portugal, mormente elaborada no ciclo de 1580/1700 não é um fenómeno de erupção palaciana; ela vem de longe, e os ideólogos palacianos limitaram-se a pôr em letra de ler, ou em papel de prelo, uma interpretação de mitos, de imagens avoengas.
¶ Lusitânia situa-se entre Ibéria e Oceano, ou, na configuração pré-romana, numa forma quadrangular que o domínio romano por considerações estratégicas encurtou, ao dividir a Hispânia em três províncias, a Lusitânia (diminuída da Galécia), a Tarraconense e a Bética. Das três províncias, a que corresponde ao vector do iberismo é a Tarraconense, porque Tarracona, pago ibérico, estende os elos até ao Atlântico, subjugando a Galiza e, o mais curioso a região dos Brácaros. A divisão provincial romana carece de toda a lógica étnico-cultural, mas abunda em intencionalidade dominativa. Tarracona é a Ibéria tal como os iberistas sonham: uma grande província absorvente das que lhe ficam, diminuídas, a seus pés, a Bética e a Lusitânia. A estratégia romana elaborava com base em interpretações comprometidas, pois, com efeito, Estrabão, que era mais submisso do que Mela, confundira Iberos e Lusitanos, ainda que afirmasse serem, os Lusitanos, os mais fortes dos Iberos 11. Estrabão tem interesse em identificar Iberos e Lusos para justificar a extensão da Ibéria tarraconense até à Lusitânia bracarense e lucense; Pompónio Mela sabe da forte identidade lusitana face à Ibéria, e convém-lhe sujeitar a fortaleza da finisterra à esperteza da mediterra. Ao não compreender o jogo de intenções, Herculano acabaria por cair na tese negativa da identidade nacional com base regional, por oposição a quem vira melhor do que ele, Bernardo de Brito e André de Resende — o que, aliás, vem já dito em Leite de Vasconcellos 12. A Lusitânia Romana é uma Lusitânia diminuída talhada a esquadro e régua, segundo o interesse dominacional do império, a Lusitânia natural é todo o oeste peninsular. Vai do Promontório Sacro, para além do Minho, até à vertente norte-atlântica, e do oeste atlântico até bem dentro: incluí, pelo menos, Mérida e grande parte da Estremadura, por isso chamada Extrema: a fronteira da Lusitânia com a Ibéria. A Lusitânia é o país dos quatro rios: Guadiana, Tejo, Douro e Minho; a Ibéria é a região de um só rio: o Ebro. O Ebro unifica, os quatro Lusitanos diversificam, de modo que é viável assinalar uma Lusitânia minhota (brácaro-lucense), uma Lusitânia duriense, uma Lusitânia tagana, e uma Lusitânia guadiânica.
¶ Ninguém sabe de onde vem o nome de Lusitânia. Há muitas hipóteses, todas por igual verosímeis, a mor parte delas mais provável do que demonstrável.
¶ A pesquisa da história das origens, fenómeno humanista, é coetânea do Renascimento. Enquanto o primeiro Renascimento indaga as matrizes clássicas, o Renascimento do século XVI tende a transferir do plano clássico para o plano antigo das autoctonias, pelo que o Ocidente assiste a uma espécie de movimento renascentista de fundo e propósito nacionalista, de algum modo oposto ao renascentismo de fundo macro-cultural europeu. Neste quadro quinhentista, “o maior e mais judicioso antiquário português do século XVI” 13 foi o humanista André de Resende, cujo gosto pela erudição clássica o orientou para a indagação dos valores da sua terra, como factores reais, a par dos clássicos grego e romano. O De Antiquitatibus Lusitaniae (1593) continua sendo o pórtico da história lusitana antiga, pórtico esse por onde discorreram os geógrafos e antropólogos do século XVII, desde Bernardo de Brito, (cuja parte primeira da Monarquia Lusitana alarga os conhecimentos de Resende, por recurso a Laimundo Ortega) a Faria e Sousa, a Rodrigo Méndez Silva, e a Gaspar Estaço (+ 1626), bem como a Teodósio de Bragança, que as crónicas registam como um dos mais curiosos autores do seu tempo, em matéria lusitana 14.
Bernardo de Brito.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/44/Bernardo_de_Brito.jpg/385px-Bernardo_de_Brito.jpg
¶ O laboratório de pesquisa das formas lusitanas prosseguiu no século XVIII, com aproveitamento das colheitas prévias, nos exercícios da Academia Real de História Portuguesa 15, fundada em 1720, e a cuja actividade se deve não só a recuperação documental de que usufruímos, mas também a sequência historiográfica e metodológica no âmbito das ciências históricas, que viria a culminar em Alexandre Herculano, ele já um fruto da linha metodológica aberta por Manuel Caetano de Sousa. Equivalente crédito tem a haver a Academia Real das Ciências de Lisboa, cujos trabalhos relativos a esta problemática se acham nas importantes colecções de Memórias de Literatura Portuguesa e de História e Memórias da Academia das Ciências. O século XIX, com o desenvolvimento das ciências auxiliares, trouxe novos contributos à pesquisa da antiguidade lusitana, em todos os domínios, desde o mesológico ao antropológico, nesse capítulo merecendo realce as obras de João Bonança, Augusto Coelho e Oliveira Martins, entre outros, complementados, com alto espírito de síntese, por Leite de Vasconcellos. Na transposição do século XIX para o século XX, há a assinalar a actividade arqueológica de Carlos Ribeiro (+ 1882), bem como os trabalhos da Associação dos Arqueólogos Portugueses, fundada (1863) por Possidónio da Silva; da Sociedade de Geografia de Lisboa e, sobretudo, da Escola Antropológica Portuense, cujas raízes têm muito a ver com a obra desenvolvida por Martins Sarmento, obra essa que seria continuada pelo núcleo que à sua volta se criou em Guimarães, a Sociedade Martins Sarmento 16. Neste ciclo de estudos há efemérides: em 1880, o Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-Histórica (Lisboa); em 1888, a fundação da Sociedade Carlos Ribeiro, por Rocha Peixoto, Ricardo Severo, Adolfo Coelho e outros; em 1899, o aparecimento da revista Portugália; em 1911, a criação da cadeira de Antropologia na Faculdade de Ciências do Porto, em que pontificaram um António L. Ferreira Girão e um Câmara Sinval. Deste núcleo escolar nasceria a Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia (1918), onde se distinguiram personalidades quais Aarão de Lacerda, Damião Peres, Teixeira Rêgo, Bento Carqueja, e onde outros continuam a distinguir-se em nossos dias. Análogo papel competiu à antropologia conimbricense, desde a fundação (1885) da cadeira de antropologia na Universidade, que teve desenvolvimento com o magistério positivista de H. Teixeira Bastos 17.¶ As ciências da antiguidade lusitana progrediram em monografias desde o século XVI até à síntese elaborada no primeiro quartel do nosso século por Leite de Vasconcellos mas, depois deste, vive-se uma nova fase monográfica, analítica e pormenorística, já a carecer de síntese ampliada.
¶ A tese mais aceite é a de que os Lusitanos eram um povo pré-celta, ocupante, nativo ou imigrado, da região da Lusitânia. Os antropólogos identificam outros povos, a que os antigos chamam raças, v. g., cúnios, taganos, transcudanos, etc., mas as designações não correspondem a etnias rácicas, identificam apenas etnias regionais. Transcudanos eram, por exemplo, somente os lusitanos de Ribacoa; e o mesmo dos taganos — os lusitanos do Tejo. Estas designações serviam para identificar núcleos populacionais habitando uma determinada região. Não designam nem nominam povos muito diferentes, apesar das eventuais variantes heteroétnicas, tal como sucede em nossos dias entre beirões, minhotos, saloios, alentejanos e algarvios. O toponímico sobrepõe-se ao antroponímico, mas não o subverte, nem cria diferenças desidentificativas. »
Curiosos os símbolos que ladeiam a efígie de Bernardo de Brito. Alguém sabe o seu significado?
ResponderEliminarNão está esquecido ... :)
EliminarCaro Boral , esta época de Natal enche o meu coração e o tempo é-lhe dedicado .Não está esquecido .Prometo-lhe que responderei logo depois .
ResponderEliminarUm Abraço em Cristo-Rey Menino e Senhôr !