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06/04/2011

DESCOBRIR o ENDOVÉLICO

Na Rota do Endovélico (Alentejo)

O concelho do Alandroal, em pleno Alentejo profundo, onde encontramos vestígios de lugares mágicos dedicados à mais importante divindade da Lusitânia Romana, era há dois mil anos um forte centro de peregrinação. Actualmente, aguarda a sua revalorização, mas, entretanto, poderemos partir à aventura da sua descoberta.

A região dedicada ao deus Endovélico constituía o locus sacer mais famoso da antiga Lusitânia do meio-dia. Esse santuário da Natureza era percorrido e vivificado pela ribeira do Lucifecit (a tradição liga-a a Lúcifer, aquele que traz a Luz) que serpenteava pelos vales sagrados recordando a água luminosa que purifica, mas também o rio mítico que dá acesso ao «outro mundo».
Num raio de vários quilómetros, existem várias «fontes santas» relacionadas com capelas cristãs que evocam o papel das águas lustrais, purificadoras e terapêuticas, no âmbito da religião praticada neste bosque sagrado.
 
Por outro lado, não nos podemos esquecer de que a ocupação humana neste território remonta a centenas de milhar de anos (Paleolítico Inferior), de acordo com os vestígios encontrados nas margens do Guadiana. Também foram descobertas nesta região várias habitações antigas e monumentos megalíticos de povoados datados desde o período Neolítico até à chamada Idade do Ferro, ou seja, do V ao I milénio a. C.
 
Estamos, portanto, a falar de uma região especial, com muitos lugares sagrados que ainda hoje emanam uma fortíssima energia tipo yang. Os antigos habitantes desta zona parecem ter tido uma especial predilecção pelas colinas rochosas que emergem dos montes, estando localizadas muitas vezes junto à ribeira do Lucefecit.
 
Santuário Rocha da Mina
É numa escarpa rochosa que se encontra o santuário da Rocha da Mina emergente num pequeno mons sacer ladeado em U (o que dá ao monte a forma de uma pequena península) pelo curso de água do Lucifecit que assim o delimita magicamente.
Certos autores consideram que este santuário rupestre poderá ter sido o templo primitivo dedicado ao deus Endovélico. É o único local do género conhecido a sul do Tejo.
 
Da última vez que lá estivemos, o nosso amigo José Fialho referiu-nos o local de entre duas escarpas no cimo do monte onde começaria um caminho subterrâneo hoje entaipado que passava por baixo da ribeira de Lucefecit. Ou seja, era um túnel iniciático cuja passagem por debaixo do rio evoca a passagem ao «outro mundo», o que está de acordo com a simbologia de uma divindade concomitantemente solar e infernal, portanto iniciática.
 
Outeiro de S. Miguel
No outeiro de S. Miguel da Mota, a poucos quilómetros deste santuário primitivo, construiu-se na época romana um novo templo consagrado a esta importante divindade pré-latina. No local, os Alanos terão construído um santuário dedicado a S. Miguel; os muçulmanos transformaram a igreja em mesquita e, com a reconquista cristã, a construção voltou a ser transformada em templo cristão. Em 1559, o templo de Endovélico ainda devia estar mais ou menos bem conservado quando o Cardeal Dom Henrique (o inquisidor de má memória) mandou remover do local 96 colunas de mármore para serem empregues no Colégio do Espírito Santo de Évora.
 
Posteriormente, o duque de Bragança, Dom Teodósio I, a quem devemos a primeira recolha epigráfica, mandou levar muitas preciosidades do templo para o Mosteiro de Nª. Sr.ª da Graça e para o Palácio de Vila Viçosa. Do edifício em si apenas chegou até nós uma plataforma quadrangular. Segundo Leite de Vasconcelos, recorriam a este templo pessoas de todos os estratos da sociedade romana, o que nos parece verosímil.
 
Tendo em conta os dados arqueológicos disponíveis, o fortíssimo impacto que este culto teve na época e a magia do lugar onde o templo se encontrava – num monte em cujo sopé passava a ribeira do Lucefecit, uma área há muito sentida como sagrada –, parece-nos interessante a relação estabelecida por Lambrino com o Templo de Apolo em Delfos, onde estava o omphalos, o «centro ou umbigo do mundo» da Grécia antiga. Píton era uma serpente terrífica que guardava um antigo oráculo.
 
Não escamoteamos que Apolo é, por excelência, um deus solar, uma divindade da Luz, e Endovélico, um deus ctónico, que faz a ligação com o «outro mundo». Mas a Luz está presente na toponímia da região, não apenas através de Lucefecit mas também do lugar de Sta. Luzia, onde se encontra um dólmen, com corredor, de considerável monumentalidade. E, não muito longe, como nos recorda amiúde o nosso amigo e historiador Pedro Gomes Barbosa, encontra-se a Aldeia da Luz e o «Caminho dos Espíritos».
 
Igreja Fortaleza de Terena...
Ainda no concelho do Alandroal, e a poucos quilómetros destes lugares, encontra-se a Igreja-fortaleza de Nª Sr.ª da Boa Nova, junto à povoação de Terena. É uma edificação única no género em Portugal. A sua planta tem a forma da cruz grega, com os quatro braços iguais. Poderá ter uma influência orientalizante, pois recorda automaticamente a Igreja de São Jorge de Lalibela, da Etiópia, construída no século XII, cuja planta também é uma cruz de braços iguais.
 
 .... Vila Viçosa e Estremoz
O visitante, no regresso, poderá vir a Vila Viçosa, onde para além de visitar o seu célebre Palácio dos Duques de Bragança, a célebre Porta dos Nós e o castelo, pode observar o enigmático cruzeiro do Carrascal que se encontra em frente e a eixo da Igreja da Nossa Senhora da Lapa, foi construído na primeira metade do século XVI.
 
Este cruzeiro manuelino é muito singular e de um simbolismo mistérico muito profundo. Do lado da cruz, onde normalmente estaria a representação antropomórfica de Jesus Cristo, estão apenas esculpidas as chagas, através de um desenho que recorda a pata de ganso. Este Cristo gnóstico, livre das ataduras humanas, transforma-se num animal fabuloso e alado que se entrelaça no cruzeiro. Este animal tem cabeça de dragão, asas de morcego e corpo de serpente. É uma serpente-dragão alada e está virada para oriente. Tem esculpidos 10 furinhos, numa sequência tripartida (3, 5 e 2), e é um símbolo da sabedoria primordial e do renascimento iniciático, é um Cristo ressuscitado. Tem, como modelo, o signo milenário da serpente enlaçada no tau, um claro emblema dos Mistérios.
 
Para finalizar o périplo, propomos a visita ao Castelo de Estremoz onde se encontra a bela Torre de Menagem, lugar intimamente ligado à história da Rainha Santa Isabel.
 
Paulo Alexandre Loução
Autor de «Portugal Terra de Mistérios»
Coordenador da Nova Acrópole de Lisboa

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