Anjos
de Pedro Teixeira da Mota
em 16 Dez 2010
A Tradição Universal da Unidade Fraterna dos Seres e da existência das Hierarquias Celestiais e dos Anjos da Guarda, seres que nos apoiam e harmonizam no caminho e nos ligam mais à Verdade e a Deus, continua viva e só espera, para nos inspirar, que os aceitemos e chamemos com amor.de Pedro Teixeira da Mota
em 16 Dez 2010
Vem dos tempos pré-cristãos a invocação dos Anjos (de angelo, em grego, angelus em latim, mensageiro), então também denominados deuses, espíritos, génios e daimons. Em Portugal, que viria a ser consagrado pelo rei D. Manuel I ao Arcanjo Mikael (conforme podemos ver no portal sul do mosteiro dos Jerónimos), vários locais de culto, do Alentejo (S. Miguel de Terena) a Trás-os-Montes (Panóias), atestam o perene conhecimento desses seres de corpos espirituais subtis que ligam o mundo divino e o humano.
A Tradição Universal da Unidade Fraterna dos Seres e da existência das Hierarquias Celestiais e dos Anjos (§) da Guarda, seres que nos apoiam e harmonizam no caminho e nos ligam mais à Verdade e a Deus, continua viva e só espera, para nos inspirar, que os aceitemos e chamemos com amor.
Vem dos tempos pré-cristãos a invocação dos Anjos (de angelo, em grego, angelus em latim, mensageiro), então também denominados deuses, espíritos, génios e daimons. Em Portugal, que viria a ser consagrado pelo rei D. Manuel I ao Arcanjo Mikael (conforme podemos ver no portal sul do mosteiro dos Jerónimos), vários locais de culto, do Alentejo (S. Miguel de Terena) a Trás-os-Montes (Panóias), atestam o perene conhecimento desses seres de corpos espirituais subtis que ligam o mundo divino e o humano. Na tradição judaica chamados Malak, os anunciadores da vontade divina, só depois do cativeiro na Babilónia (586 a.C.) é que se desenvolveu a sua consideração, certamente por influência assíria e iraniana. Com efeito, é no Irão que se preserva a mais antiga tradição, vinda do Zoroastrismo, com a Fereshtet ou Fravarti, a contraparte celestial do ser humano, vivendo para se unir a ele e ligá-lo ao mundo divino. Os místicos e gnósticos islâmicos do Irão aprofundaram fortemente esta ligação, sobretudo Avicena e Sohravardi, e tal foi excelentemente bem estudado pelo francês Henry Corbin, autor de várias obras a merecerem tradução em português...
Nas aproximações pioneiras ocidentais lembremo-nos de Pitágoras (§), de Sócrates confessando que o seu daimon o avisava do que não devia fazer, de Platão, e dos neo-platónicos Proclo, Apuleio e Plutarco. No Cristianismo, depois de Jesus Cristo, que várias vezes os refere ou mostra, destacam-se Clemente de Alexandria, Orígenes, S. Gregório de Niza e, sobretudo, Dionísio Areopagita (fim do século V), em cujas obras surge uma descrição hierarquizada de nove esferas ou ordens, tanto de manifestação dos atributos divinos como de funções:
Os Anjos (guardiões e mensageiros), Arcanjos (segundos anjos das pessoas e inspiradores), Principados ou Arcontes (presentes em cada igreja, e em associações), Potências (inspiradores da oração, protectores da Providência e da Justiça), Virtudes (fortificam-nos na prática das virtudes), Dominações (entusiasmam os que trabalham pelo advento do Reino, inspiram os que ensinam), Tronos (firmes na justiça, atribuídos aos países). Querubins (refulgindo na inteligência) e Serafins (ardendo no amor do Amor).
No Cristianismo Ortodoxo, a importância dos Anjos, enquanto transmissores de luz gloriosa de Deus, é fortemente acentuada, entre outros que os viram, por S. Gregório Palamas (1296-1359), enquanto que no Protestantismo, infelizmente, perdeu-se. No Islão estão muito presentes nos escritos dos grandes místicos, como Ibn Arabi e Shoravardi. Outros testemunhos valiosos encontrámos em Dante, Marsilio Ficino (§), P. António de Vasconcelos, Jacob Boehme, Swedenborg, Mechtilde Thaller, Rudolfo Steiner (§) ou o Padre Pio. Nos nossos dias, numa febre egoica e comercial, multiplicaram-se os livros tratando os anjos quase como entidades e instrumentos tipificados e quase mecanicamente à disposição do Homem, esquecendo-se do seu carácter único e de toda a sua intimidade, subtileza, elevação e imprevisibilidade.
Recuperar a visão, a audição ou o diálogo do Anjo da Guarda, ou dos Anjos da cura, da música, dos locais sagrados, dos nomes de Deus, orar tendo em conta a sua participação nos nossos trabalhos, anseios e encontros, pedir-lhes para estarmos mais conscientes deles e de Deus, do interior de nós e dos outros, são portanto vivências profundas e sérias que vale a pena tentar sentir no coração e valorizar.
Podemos invocá-lo ao acordar, tanto mais que por vezes é ele quem nos desperta, e sintonizar-nos. No banho, pedir-lhes que nos purifiquem. Na comida, que nos fortifiquem. Na concepção, que intensifiquem a luminosidade da relação amorosa e da criança que irá nascer.
Durante o dia, a oração: «Meu Deus, meu mestre, meu anjo (§), amo-vos», ou outra, pode ser lançada, qual seta ardente de irradiação amorosa, ou de apelo ao que precisamos, ou de maior alinhamento e abertura do canal vertical. À noite, o "Com Deus me deito, com Deus me levanto, com a graça do Espírito Santo, Deus me cubra com seu divino manto. E o Anjo da Guarda me guie com seu encanto".
E em momentos especiais, relacionemo-nos mais com eles, orando, comungando no amor e na adoração a Deus, fazendo o silêncio receptivo, lembrando-nos que eles inspiram, protegem no sofrimento, ou levam as energias das nossas orações para os seres necessitados, e até ao mundo divino, abrindo-nos mais a ele.
Certamente que cada pessoa terá, derivada do seu auto-conhecimento interior, a sua especificidade de ligação ao Anjo: a uns poderá ser pela repetição cuidada e dirigida para dentro da palavra anjo ou de alguma oração, para outros será contemplação da natureza ou meditando em certos símbolos, como o espelho, já que eles são como espelhos da Luz de Deus, ou as asas, já que surgem movimentando-se no éter, e nos impulsionam à passagem das coisas visíveis para as invisíveis, e à contemplação. Nesta, na medida em que nos transformamos ou tornamos em templos, o anjo pode-se tornar presente, sensível, e fazer subir e descer as energias espirituais, e a bênção ou graça divina.
Lembremos ainda algumas orações: "Anjo da Gurda, minha companhia, rogai por mim de noite e de dia". -"Anjo da Guarda, presença pressentida, guia-me e ilumina-me de noite e de dia". -"Aconselha-me, ó Anjo do Senhor, e guia-me no caminho do Amor".
Boas épocas de trabalho:
Natal, quando os céus e os tectos das igrejas ou assembleias religiosas e espirituais estão mais abertos e cheios deles.
Equinócios e os Solstícios, momentos especiais da dinâmica da Alma do Mundo, tão participada pelos quatro Arcanjos. Dê a Eles e às suas hostes as boas vindas, ore com eles à hora exacta, e veja-os nas belas formações de nuvens, ou no nascer e pôr do sol, que nestes dias não deixam de nos surpreender. Assim na Primavera é Rafael (cura de Deus) e as energias curativas, mas ao longo de todo o ano os peregrinos podem contar com ele. No Verão, Uriel (Luz de Deus), o fogo ardente e purificador. Outono, Mikael (Quem como Deus?), o que nos ajuda pela paciência a vencer os obstáculos, e nos guia para o mundo espiritual. E no Inverno é Gabriel (Força de Deus) quem impulsiona a nossa aspiração para as revelações e para o renascimento espiritual e divino. Nesses momentos de dinamização da Alma do Mundo, participamos numa sincronia cultural, litúrgica, ou seja, simultaneamente o mundo divino, o espiritual e o humano alinham-se e vibram em ressonância harmonizadora.
Quem trabalha, medita e reza, tentando sentir o Anjo ao seu lado, ou mesmo face a face, conta pois com um ser celestial capaz de inspirar e auxiliar nos momentos difíceis, e está mais firme e luminosa, pois começou já a desenvolver os órgãos da percepção do seu corpo espiritual, tão necessários após a morte.
No silêncio interior os Anjos interpelam-nos: «Vós sois filhas e filhos de Deus, recuperai a visão e audição espiritual, e vivei fraternos e conscientes da realidade sagrada. Não sois os corpos físicos que usais, nem sequer as vossas personalidades, mas espíritos emanados de Deus, corpos gloriosos em potência, cooperando no plano divino para a Terra e o Cosmos».
Não sejais pois seres alienados ou manipulados pela televisão, pelo futebol, pela publicidade, pelos políticos, pelas drogas e bebidas alcoólicas, nem seres reduzidos à luta pela sobrevivência, mas seres auto-conscientes, corações despertos, lúcidos, criativos, solidários, ligando harmoniosamente o Céu e a Terra com os mensageiros de Deus, e tentando que isso melhore as condições de vida humana, eis o apelo sussurrante.
Xvarnath chamava-se na tradição iraniana à Luz da Glória, desperta e irradiada através do recolhimento mais íntimo e do face a face com o Anjo (§), a contraparte celestial, a Fravarti, e que dá coerência e brilho às pessoas.
Ore pois a Deus pedindo-lhes asas, de aspiração ou dos anjos, para se elevar o mais possível até Ele. Erga a alma, suba ao cimo do monte, peça a purificação das suas intenções, um conhecimento maior de si próprio e do seu Anjo da Guarda, uma vida mais justa, e comungue com o Amor Divino, transmitindo-o, partilhando-o, irradiando-o à sua volta.
«Procurai e encontrareis; pedi e recebereis», disse-nos Jesus. Esteja atento ao zumbido, ou ao toque, do Anjo, faça silêncio dentro de si, entre na gruta do coração e seja inundado pelo Amor e inspirado pelos Anjos, para o bem do Universo e glória da Divindade.
Sem comentários:
Enviar um comentário