Aqui É Portugal, A Terra de Santa Maria!
Bem Vindos tôdos(as) os que Amam a Lusitânia ...Tudo o que é aqui Dito, foi(e é) Vivido por mim, Muito embora tantas e tantas vêzes sentido,pensado e escrito por outros/as, outros/as com os/as quais me Identifico,...porque Irmanados no Passado, no Presente e no Destino Luminôso de Portugal, O Pôrto-Do-Graal...Santa Maria que É A Luz da Citânia, ou A Terra da LUZ Divina, onde A Mãe Celestial Estabeleceu o Seu Trôno Terreal.
Tôdos os dias são Dias de Dêus , mas hôje , em especial , Comemoramos no nosso coração de Portuguêses Fieis á Nossa Matriz , o Amôr que Devotamos á MÃE Santíssima .
Que
a Mãe e Padroeira , Protectôra de Portugal , Rainha do Céu e da Terra e
Rainha dos Santos Anjos , Envie os Exércitos Celestiais comandados
pelo Altíssimo e Poderôso São Miguel Arcanjo , o Padroeiro e Protectôr
de Portugal , para que Persigam e Combatam o Inimigo de Dêus , o Maligno
e os seus muitos Sequazes , Lacaios , servidôres , sejam visíveis ou
invisíveis , encarnados , ou não , onde quer que estejam nesta Terra de Santa Maria. Que São
Miguel Arcanjo e os Santos Anjos os Persigam e Combatam , pelos Céus ,
pelas Terras , pelos Rios e Mares de Portugal .Que desenvolvam as suas
Potências de LUZ indo aos recantos mais escuros e trevosos , aos antros
mais abjectos e sombrios , onde se escondem e tramam a nossa perdição ,
nesta Nação do Espírito Santo , nesta Terra de Santa Maria , e os
Expulsem e Afundem , Definitiva e Irremediávelmente de Volta ao Abismo
para nunca mais voltarem , de modo a que os
Portuguêses-do-Fim-e-do-Princípio , de maneira que o Pôrto-do-Graal que é
Portugal , possa finalmente Cumprir-se .Que Assim Seja Feito em Nôme da
Santa Cruz de Portugal que é a de Cristo Rey e Senhôr .
Oração à Virgem Santíssima, Rainha , Padroeira e Protectôra de Portugal
(Oração da Irmã Lúcia, vidente de Fátima)
Ó
Maria concebida sem pecado, olhai para Portugal, rogai por Portugal,
salvai Portugal. Quanto mais culpado ele é, mais necessidade tem da
Vossa intercessão. Uma palavra dita por Vós a Jesus e Portugal será
salvo. Ó Jesus, obediente a Maria, perdoai-nos, salvai Portugal.
Avé, Maria,
Cheia de graça, o Senhor é convosco,
bendita sois Vós entre as mulheres
e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus
rogai por nós, pecadores,
agora, e na hora da nossa morte.
Amém.
Mãe
de Misericórdia que sois alento dos fracos e saúde dos enfermos, curai
Portugal de todos os males de que sofre, perdoai-nos, salvai Portugal.
Avé, Maria,
Cheia de graça, o Senhor é convosco,
bendita sois Vós entre as mulheres
e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus
rogai por nós, pecadores,
agora, e na hora da nossa morte.
Amém.
Rainha dos portugueses e refúgio dos pecadores, Ouvi as nossas preces, perdoai-nos, salvai Portugal.
Avé, Maria,
Cheia de graça, o Senhor é convosco,
bendita sois Vós entre as mulheres
e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus
rogai por nós, pecadores,
agora, e na hora da nossa morte.
Amém.
Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós e pela nossa Pátria, perdoai-nos e atendei-nos.
Salvé, Rainha, Mãe de misericórdia,
vida, doçura, e esperança nossa, salve.
A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva,
a Vós suspiramos, gemendo e chorando,
neste vale de lágrimas.
Eia, pois, Advogada nossa,
esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.
E depois deste desterro,
Nos mostrai Jesus, bendito fruto do vosso ventre.
Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria.
* * *
Majestade Divina, Senhor da vida e da morte, dos que Vos amam e dos que Vos perseguem! Por intercessão da Santíssima Virgem de Fátima, Rainha da Paz e nossa Mãe, Vos pedimos que não deixeis a nossa Pátria o nde Maria ergueu o Seu trono, venha a ser dominada e destruída por obra dos Vossos inimigos. Enviai os Vossos Santos Anjos a todos os locais da Lusitânia , e permiti que eles possam desenvolver as suas potências em todos os seus recantos, para que o inimigo não venha a triunfar na nossa Pátria. Nós queremos formar um exército de almas que rezam para que Vós, Deus Uno e Trino, estendais a Vossa Mão poderosa sobre este povo que é de Maria Vossa Mãe. Permiti, ó Senhôr Santo Cristo , Amado Rey , Mestre e Guia de Portugal , que as nuvens Trevosas que pairam sobre a humanidade e tendem a espalhar-se e a submergir a nossa Pátria, sejam afastadas , que a nossa Pátria possa sêr Libertada do jugo do Mal , e que Portugal possa , finalmente , Cumprir-se. Só Vós podeis salvar-nos! Pela Vossa graça e especial protecção da nossa Padroeira Maria Imaculada e do Anjo Custódio de Portugal, São MIguel Arcanjo , permiti, ó Deus, que a nossa terra nunca seja aniquilada pelo inimigo. Deus Santo, Deus Forte, Deus Todo-Poderoso, Deus Imortal, em união com todos os Santos Anjos, pedimo-Vos auxílio e Benção para a nossa Pátria, por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém. * * *
Sagrado
Coração de Jesus e Imaculado Coração de Maria, inteiramente confiados a
Vós, oferecemo-Vos em oblação o nosso país e povo de Portugal, para que
sobre eles reineis plenamente.
Oferecemo-nos
em reparação de todas as ofensas a Deus cometidas em Portugal,
recorrendo confiadamente aos Corações de Jesus e de Maria aos Quais
pedimos a Graça de um espírito contrito e Humilde e o perdão para todos
os que não Vos Crêem, não Vos Adoram, não Vos Esperam e não Vos Amam.
Do desprezo da Vontade de Deus, livrai-nos.
Da perda da consciência do bem e do mal, livrai-nos.
Dos pecados contra a vida humana desde os seus primeiros até aos seus últimos momentos, livrai-nos.
Dos pecados contra o matrimónio e a família, livrai-nos.
Da perversão contra as crianças e os jovens, livrai-nos.
Do intento de apagar nos corações a FÉ e a Verdade mesma de Deus, livrai-nos.
Da mentira e do pecado contra o Espírito Santo, livrai-nos.
De toda a classe de injustiça na vida social, livrai-nos.
Do Consumismo e do esquecimento dos pobres, livrai-nos.
Do adormecimento de tôdos os que Vos Amam e Adoram acima de tudo , livrai-nos.
Acolhei,
Sagrado Coração de Jesus e Imaculado Coração de Maria, a consagração
que agora Vos fazemos, em nôme de todos os Baptizados no Espírito Santo , em nôme de todas as
pessoas de Bôa Vontade.
Que mais uma vez se Revele na História de
Portugal , o Infinito Podêr da Vossa Redenção, a Fôrça do Vosso Amôr Misericordioso .
Que mais Uma Vez a Vossa Graça Permita que Portugal Venha Sêr o Vosso Arauto !... não para a mundana glória de Portugal , mas para a Vossa Maior Glória em tôdas as Nações !
Detende o Mal ! Transformai as consciências e Acordai-as .
Estamos
totalmente seguros de que VÓS , ó Amado SENHÔR , Assim o Fareis !
« ... bem Menino , eu Vivi Êste Minho ...lembro-me como se fôsse agora , de , pequenino , guiar os carros dos Bôis , aquêles mansos "monstros" , mêsmo atrás de mim , e lembro-me de matabichar bem cedinho de manhã , uma malga de Sôpas de pão e leite frêsco da Quinta e , de seguida , com o Sol ainda a nascêr na manhã frêsca , sair com a minha avó Quina para o Monte á cata de mato e lenha nas nossas bouças ...o carro chiava enquanto subia puxado pelas nossas Galêgas , com a Vó Quina a conduzir , as rodas encarreiradas nos sulcos centenares , irregularmente marcados nas lajes de granito que atapetavam os Caminhos da Aldeia , e eu , pequenito , feliz , lá ia sentado na traseira do carro , aos saltos , enquanto o carro solavancava e subia .... o arôma frêsco da Mata , dos Pinheirais do Monte , ia crescendo , enquanto o nosso Casal de Santo António e a Aldeia , iam ficando mais pequênos , lá mais para baixo ...
Êstes , e outros(muitos e muitos ...) Momentos Imorredoiros , eu Vivi , enquanto Crescia , Acarinhado pela minh'Aldeia , aninhada no ventre criadôr da Mãe Montanha ... Tempos de Infinita Belêza , Alegria e Simplicidade que continuam Imorredouros e que o meu Coração relembra com imensa Saudade ! ... »
Rogério Maciel (in Infância Feliz )
« O MINHO – AS INFLUÊNCIAS ÉTHNICAS – A PAIZAGEM E A MULHER
Desde as alturas da Penêda, do Suajo, do Gerez e da Cabreira
até ás suavíssimas praias do sul do Lima e ás veigas fartas da Areosa, o
solo minhôto desce lentamente para o mar. A brisa do Oceâno adoça este
clima, agreste ainda nos píncaros limítrofes da Hespanha e de
Traz-os-Montes, acariciando e fecundando a terra com a suavidade
bucólica já de longos anos observada e a esplêndida fartura que dos
arredores da Barca e de Guimarães se alastra até ao litoral. N’êste
abençoado terreno fervilha a população mais densa de Portugal. Terra
alegre, e qualquer parte d’esta região, que não fique entre os penhascos
das serras interiores, para tôda a banda onde a vista se alongue é
certo encontrar vinhedos e milharaes: ora , o pão e o vinho, tôdos o
sabem, são o Côrpo-de-Deus e o Sangue de Christo.
Assim, por estes sítios, entre a natureza e o homem , há um acôrdo
tácito que torna a terra mais productiva e a vida social mais
confortável. A paisagem, da meia-encosta para o mar, é d’um suprêmo
encanto, macia e dôce como o dôce mel. Por isso os minhõtos são como as
abelhas; apegadas ao colmeal trabalhando e zumbindo, isto é, cantando. A natureza do terreno em declive , divide a região em duas partes bem
distintas: a montanha e o litoral, a serra e a ribeira. A população das
serras que constituem a ossatura geológica do Minho é a serrana; a dos valles e das praias a ribeirinha,
mais densa e instruída que a das montanhas, mais alta também, quanto a
estatura. Sobre os elementos ethnogénicos que nos tempos proto-históricos aqui assentariam, e que seriam Ligúres, crusaram-se as
migrações célticas, de predomínio hoje manifesto nas partes montanhosas
de Ponte do Lima e de Castro Laboreiro, e, mais tarde, as invasões
nórdicas, cujo typo anthropologico predomina ainda nos valles e no
litoral. Estes povos não modificaram a cultura primitiva tanto quanto
ethnicamente se desenvolveram, ao contrario do que sucedeu com os outros
povos invasores dos tempos históricos. Etimologicamente, o elemento
ligure predomina nas serras, como em Castro Laboreiro; o elemento
céltico, moreno, do Ancora ao Cavado; e o elemento nórdico, louro e
sardento, do Cavado ao Ave. Mas aos efeitos dos cruzamentos e á acção do
tempo sobre as diferenciações ethnicas resistiram notavelmente as
mulheres que sempre revelaram e revelam, nos seus usos como nos seus
typos, as mais remotas influências ancestrais.
Por cá , a mulher, mais do que o homem, é um producto da terra,
espontâneo, natural; á paisagem inteiriça, áspera e sóbria da montanha
corresponde a physionomia rude, severa e triste da serrâna; como á
paisagem maleável, dôce e farta da beira-mar corresponde a physionomia
viva, afável e alegre da ribeirinha. O scenário dos valles e das
encostas, afagado pelo sol, lavado pelas chuvas, movimentado pelos
ventos, com águas que se beijam, pinheiraes que se abraçam, campos que
dormem juntos, com um céu luminoso e sadio que tudo cria e tudo absolve
abraçando casaes e colheitas no mesmo luminôso sorriso, raramente
interrompido pelas cóleras da terra e pelas tormentas do ar, é uma
formidável quermesse natural: por isso não há terra como esta
para romarias e folguêdos, não há terra portugueza onde se cante com
mais alegria nem onde com mais espontaneidade se ame. A terra , amorável , dá o vinho espumôso que mata a sêde e alegra a alma, o trigo e o milho
de que se faz o pão-de-Deus, o quente linho de que se vestem homens e
mulheres, e a lenha para o lume, a madeira para a casa, a palha para a
enxêrga…
N’esta alegria das coisas, move-se a mulher minhota, a mais linda
mulher de Portugal; esculpturas perfeitas, como as de Seixas, a quem
Páris não recusaria a maçã, palminhos de cara, como as de Afife, que
fariam pecar Santo António. E ellas sabem-no, as marôtas! É ver como as
saias se encurtam deixando vêr a perna tentadôra. É vêr como os
colletinhos abertos suspendem e amparam os fortes seios. É vêr como os
bustos se requebram no voltear do Vira e no passeiar do Regadinho.
Também o homem, no Minho, se habitua desde creança a admirar a mulher; e
mesmo, depois de casado, nada faz, por via de regra, sem a consultar. A
emigração, afuguentando o minhôto, augmenta o predomínio da minhôta. E
não seria temerário paradoxo afirmar , que para estas bandas, o homem… é a
mulher.
A MULHER COMPANHEIRA DO HOMEM – FESTAS E TRABALHOS AGRÍCOLAS
O Celeiro do Alto Minho é Coura, terra das papas, paraízo da
borôa. Como por lá o terrêno é mais fundo e húmido, as colheitas
fazem-se no S. Martinho, e sangra-se Christo sem escrúpulo. São as martinhadegas.
Parece que o nome explica os usos. E de facto explica. As mulheres
entram com os homens nas malhadas
com eles manejam, alternadamente, os
mangoaes. Nos terrenos mênos fundos e mais secos, pelo leste do Minho,
as malhadas fazem-se mais cêdo; e mais cedo ainda, em setembro, pelo S.
Miguel (dia santo em todas as aldeias minhotas), faz-se a desfolhada.
Nota minha: Na Desfolhada do Minho, tudo se passava á Noite , ao serão(participei em menino em algumas), calmamente(nada de música instrumental ou danças)sentados/as á roda das Maçarocas, mas alegremente, em que se falava e brincava(mas também se podia Cantar cantigas da Tradição), enquanto que as maçarocas iam sendo Desfolhadas.E sim se uma Môça(ou Môço) encontrava a Espiga Encarnada, então ela ia mêsmo beijar quem mais lhe interessava...não havia nada êsses bailaricos ou música tradicional Minhôta.Isso era reservado para fase seguinte , que era A MALHADA.Aí sim , havia a Festa, mas pricipalmente , só depois de se Malhar o Milho na Eira.Não sei porque é que não fazem Malhadas , mas A Festa , era só nas Mlhadas.Não nas Desfolhadas , que era uma reunião Calma e de almas, de diferentes casas, Vizinhos e da própria casa(que iam rodando de Casa em casa(Colheita em colheita) , num verdadeiro espírito de Comunidade, Local e Tempo de Trabalho,Divertimento e onde , tanto Rapazes, como Raparigas , podiam encontrar (quem sabe) a sua futura alma gémea, começar Namôro e seguir casados pela vida afora.Só nas Malhadas é que havia a Festa com Música, muita Alegria e Movimento.Aó os recém casalinhos podiam Dançar .Isto tem muito que se lhe diga, mas acho que as Gentes se esquecêram bastante das suas Tradições.
Esfolhear o milho consiste em descamisar-lhe a espiga. Devia ser um
trabalho enfadonho. Pois não é. Por toda a parte é uma pandega de truz.
No coberto ou na eira reúnem-se os vizinhos á gente da casa, e não
faltam á festa as cachopas bonitas com os seus conversados. Sentam-se
todos no chão ou onde Deus quer, n’uma grande roda. Canta-se ao desafio,
conversa-se e quando aparece o milho-rei corre o possuidor a roda a colher abraços da sociedade. Ás vezes irrompe do escuro uma mascarada
pitoresca. Dança-se e ceia-se. Come-se bacalhau ou sardinhas, a borôa,
um caldo de couves com feijão; bebe-se a pinga do Senhôr; e, como ás
vezes o amôr e o vinho fazem das suas, não é raro acabar tudo á meia-noite com muita pancadaria. Nas malhadas de centeio, mais montanhezas,
cada infusa de vêrde é acolhida com vivas desengonçados a que chamam apupos.
Mas quanto mais os mangoaes trabalham mais a fome aperta. Por isso,
antes do meio dia, cae na cozinha um grupo de malhadôres, cocando a
comida ou as mulheres. Mas estas não são pêcas: brigam com êles –
defendendo-se a tição, com a pá do fôrno, a braço, como calha – e
expulsam-nos para a eira com grande alarido. Ao arrumar da palha,
arma-se um môno representando uma velha, a cujo enterro se procede
imediatamente, indo atraz o viúvo como carpideira. Não são estas porém as únicas festas agrícolas da região. Há as lavradas
pela Páschoa.
Lavrada Minhôta , em que, não só a família como a vizinhança ajudavam ,
e isto era(e ainda é) rotativo, um Trabalho Comunitário.Iam primeiro os/as Lavradeiras
com as enxadas cavar a Leira e depois passavam os bôis com o arado. No final semeava-se
os cereais .Mas êste filme já dá uma ideia da Belêza simples dos Trabalhos do Campo no Minho
E em Junho, foucinha no punho, lá vae tudo para as veigas
segar o trigo e o centeio. Depois da apanha do linho, faz-se também,
pelo S. João, a espadellada.
Todas as cachopas, com o seu cortiço ao lado e de espadella
O Linho , a Espadela e o Cortiço
na mão, trabalham como formigas e cantam como cigarras.
Fica aqui um linque com uma sequência de vídeos sôbre os Trabalhos do Linho:
Vão-se chegando os rapazes, que se prantam de roda, encostados aos varapaus. Surge, de repente, o tocadôr, com o cavaquinho ou o harmónico;
e lá se abandonam os cortiços e se pousam as espadelas, porque já as
moças, a mai-los moços – vira que vira, - entram na dansa, de mãos
erguidas, emquanto os velhos saboream a pinga, limpando a bocca
ás costas da mão. Nas vindimas canta-se também, está visto, mas, depois
das maceiras terem deitado as uvas nas dornas ou nos lagares, o
mulherio retira-se prudentemente, porque o resto, cá no Minho, é só para
homens.
São os homens, de calças arregaçadas, e alguns mesmo sem
calças, que vão pisando os cachos, emquanto a ceia se faz e a véla de
sebo dura accêsa. O inverno aproxima-se, com o seu cortejo de chuvas e ventanias. Ora o frio esperta o estomago. É preciso arranjar presigo
que aquente. Como no dia de Santo André quem não tem porco mata a
mulher, convém evitar a viuvez, sacrificando sobre o banco esguio, á
faca do matador, o cevado que no chiqueiro grunhe. A matança é um caso complicado que demanda conhecimentos domésticos. Até á dependura do porco e ao preparo da salmoura mestrejam
os homens, mas os cuidados culinários do sarrabulho cabem às mulheres. O
mulherio da casa e da vizinhança junta-se na cozinha a petar cebola
para os chouriços, a fazer os rojões, a bater o sangue para o arroz de sarrabulho, a preparar o lombo e a collada,
a lavar as tripas, a encher as farinheiras ou as alheiras, a depennar o
gallo (porque sem gallo não há sarrabulho que preste) e a compor a
vinha d’alhos, enquanto as crianças contemplam a bexiga que, perto do
lume, secca dependurada. Isto porque, nas casas boas das aldeias, o
jantar de sarrabulho, bem regadinho de verdasco desde a canja até o
lombo, dura horas que nem Deus conta, e para mais, quasi sempre com o
senhor parocho á cabeceira. Assim o homem se prende á terra e a agricultura e os cuidados
caseiros entreteem a mulher. Mas sem os bois como se há de lavrar o
campo? Quem dá o leite, senão as vacas? Não é também só de linho que se
há de compor o bragal! A lã dos carneiros e das ovelhas aquece mais, no
inverno, que o vinho das infusas. Os animais auxiliam o lavrador. É raro
o que não sustenta bois, próprios ou tomados a ganho. Mas, além dos
bois, há os porcos, as galinhas, as cabras, as ovelhas, o cão, que vigia
toda a noite no quinteiro, o gato, que se enrosca na quentura do lar. É
a mulher, quasi sempre, que trata dos animais: encurrala as cabras e as
ovelhas, faz a cama ao gado, tira o leite ás vacas, escalda o farello
para as gallinhas, prepara a lavadura para os porcos. Além d’isto,
trabalha no campo como qualquer homem, em especial a casada de poucas
posses, ou occupa o tempo em industrias caseiras, como a tecelagem e a
fiação. E quando se trata d’uma festa, não há ninguém como ella para
enfeitar um arcos de flôres, para adornar um altar, para animar um
leilão de prendas com segredinhos disputados, como não há
ninguém como ella para amanhar uma ceia, tecer o linho, urdir, fiar,
cantar, puxar os cordões à bolsa, calcular, rezar e descompor alguém.
AS HABITAÇÕES. VIDA FAMILAR. O NATAL Como acontece com a gente, os caracteres do terreno actuam sobre a
disposição das habitações. Falando-se da mulher, tem de falar-se da
casa, onde ella reina. É claro. Ora nos solos graníticos, onde as
nascentes abundam, embora frouxas, as casas estão espalhadas e
separadas, occupando grande extensão; nos solos calcareos, onde rareiam,
as casas agglomeram-se e anunham-se por onde a agua existe; e,
consoante a cal escasseia ou sobra, assim as casas das povoações ruraes
nos apparecem á vista negras e encolhidas, a confundirem-se com as
pedras e as brenhas, ou alvas e altaneiras, a sobressahirem do solo
fecundo. Nas serras que no inverno o vento açoita e a neve cobre, fiadas
de pedras seguram as telhas ou o colmo das habitações; e logares há,
como Castro Laboreiro, em que no cume do inverno os serranos mudam de
residência para as inverneiras, que são casas abrigadas nos
reconcavos das encostas ou mesmo no fundo do valle. A cobertura das
habitações é, conforme as posses e as condições locaes, de schisto, feno
secco, giesta, colmo ou telha vã. Nas casas pobres não há divisões,
vivendo promiscuamente a família com os animaes domésticos; o fumo sae
pelos interstícios da cobertura e as creanças dormem na mesma canastra,
com os cães. Nas povoações ribeirinhas, mais fartas, já a casa se divide
em cozinha e mais quartos, e ao pé d’ella ficam as outras construcções
agrícolas: côrte do gado, celeiro, coberto, eira e espigueiro. Quando a
habitação, por ser mais rica, tem mais outro andar, o gado fica nas
lojas térreas, e o acesso ao andar habitado é feito por uma escada
externa de pedra, sobre cujo patamar superior se abre um alpendre. É
frequente vêr-se ainda, ao longo de toda a fachada da casa, uma varanda
saliente. Nas longas noites de inverno toda a família se reúne na cozinha, peça
principal da habitação rural do Minho, e ahi, á ténue luz da candeia ou
á crepitante palpitação do lume do lar, as mulheres fiam nas rocas ou
dobam nas dobadouras o linho ou a lã das maçarocas e meadas, enquanto as
creanças escutam, de bocca aberta, as historias tradicionais que a avó
desfia, como desfia a estopa, ou as confusas dissertações de algum patranheiro
da casa: no período que decorre de Santa Luzia ao Natal, vae alguém, de
quando em quando, á porta observar o tempo, porque já começam as quendas.
Isto quer dizer que os 12 dias que vão de 13 a 24 de dezembro condensam
no seu aspeto, os 12 meses do anno que vem. Chega a véspera de Natal e
toda a família se movimenta n’um desusado alvoroço. É a verdadeira festa
do lar minhoto. É a consoada. Ceia intima, a que os ausentes do resto do anno, se pódem, veem
assistir. Come-se e bebe-se. Toda a festa caseira no Minho se concretiza
em uma boa refeição. Come-se e bebe-se alarvemente. É rara a casa onde
não há uma indigestão. Arde no lar o cepo do Natal. Joga-se o rapa,
digerem-se as rabanadas, bebe-se o vinho quente: e todos teem, no meio
da sua alegria, um gesto de saudade para o mortos queridos “que Deus
levou”.
RELIGIÃO E SUPERSTIÇÃO
Deus é para essa gente o pae supremo e bondôso, que a seu alvedrio
dispõe dos fructos da terra e dirige as tormentas do céu. Tudo se fará
“se Deus quiser.” A terra cança, o gado morre, a colheita é escassa…
Paciência! Será o que Deus quizer! O espírito da mulher minhota
volta-se acanhado para a Providencia, mesmo nos transes mais usuaes da
vida. Por toda a parte, mórmente nos montes e outeiros, há capellinhas,
nichos, ermidas, que a piedade dos fieis mantem através de ritos pagãos.
É um culto ingénuo e grosseiro. É um culto natural. Os missionários
aproveitam-no como entendem, e até procuram desorganisar a família
quando o homem, mais independente ou mais prático, prefere o trabalho
real do seu braço ao favor virtual da Divindade. De anno para anno,
n’uma dada época, conforme as freguesias, as mulheres abandonam os seus
trabalhos, põem de parte os seus deveres caseiros, as suas obrigações,
os seus filhos mesmo, e lá vão para a egreja, contas na mão,
especialmente as velhas, ouvir os bons dos missionários falar dos
castigos de Deus, dos pedreiros-livres, do inferno, das virtudes da
confissão, da supremacia universal da egreja. Ellas tremem, coitadas,
porque são supersticiosamente crentes. Há tantos pecadores por esse
mundo! O que será d’ellas quando a morte vier? No seu coração infantil
aninha-se a intolerância e o temor. O Deus da vida, que perdôa,
transforma-se no Deus da morte, que castiga. Afasta-se dos que amam a
natureza e cantam e se divertem. Desfia os seus pecados, n’um plangente
murmúrio, ajoelhada e com a saia a tapar-lhe a cara, junto á relha do
confessionário. Mas, como no fundo do seu ser se não pôde dissipar de
todo o apêgo às coisas do mundo e às venturas da terra, serve-lhe de
allivio censurar os outros, repreender os outros, meter mêdo aos outros.
O seu espírito conserva-se, todavia, sempre indeciso. N’essas
consciências crepusculares tudo se emmaranha. Quem lhe dará conselhos?
Só o padre, que representa Deus e conhece os segredos da “outra vida”. E
o padre torna-se o juiz de todas as causas, procurador da Divindade.
Nada se lhe deve negar, para que a vingança divina não flagele os
casaes.
Mas o clima impõe-se ainda, como as influencias ancestrais, e nunca a
mulher da beira-mar atinge o grau de mysticismo em que por vezes cae a
mulher sertaneja. Todavia é certo que, mesmo nas coisas profanas, um
abafado capuz de superstição a oprime. Para a serrana, sobretudo, logo
abaixo do padre está o curandeiro, ou melhor, a feiticeira. Toda a
mulher minhota, com o avançar da edade, vae adquirindo farto cabedal de
conhecimentos mágicos, résas, esconjuros, colheita e preparo de ervas
milagreiras e de órgãos de animaes, com aplicação directa a moléstias e
até a acidentes da vida. Para as lombrigas das creanças, já todos sabem
que não há melhor remédio que um rosário de alhos. Livre-se alguém de
passar por cima d’uma creança que gatinhe, porque a tolhe e o
innocentinho não cresce. Por outro lado, creança que se veja a um
espelho antes de começar a falar gaga fica, certamente. Ninguem mate um
gato na sua propriedade, porque mette mizeria em casa. A esteriladade cura-se esfregando-se a mulher pela pedra da
fecundidade. E certos santos são agentes therapeuticos de primeira
ordem. S Braz cura a garganta, S. Vicente as bexigas, Santo Amaro os
males das pernas e dos braços, Santo Ovídio ou ouvidos, Santa Luzia os
olhos. Quem resar um responso a Santo Antonio encontra o que perdeu. No
dia 24 de Abril ninguém trabalhe. É dia de S. Pedro de Rates. Se em alguma casa houver pessoa ou animal de esperanças e n’esse dia um membro da família trabalhar ou pegar em tesouras é certo que o que nascer virá, pelo menos, aleijado. Assim, quando alguém adoece, as mulheres da casa, não se fiando em
médicos, fazem as suas promessas a Nossa Senhora ou a qualquer santo da
sua devoção, e votos ou romarias á Senhora da Penêda, á Senhora da
Cabêça, á Senhora d’Agonia, ao Senhor do Allívio, a S. Torcato, etc.
romarias e promessas que em geral cumprem nos dias das festas d’esses
santos, para terem companhia e gosarem um pouco também.
O VESTUÁRIO
Às romarias minhôtas, que de Janeiro a Setembro continuadamente se
sucedem, môças e velhas levam as suas melhores roupas e as suas jóias.
Os typos característicos da indumentária feminina tendem a desapparecêr,
em vista da descentralização da vida social, das modificações
introduzidas nos processos regionaes de tecelagem e fiação, da
concorrência das indústrias e das facilidades de viação e transporte. A
cultura do linho, que existe desde que Portugal é reino, vae em
decadência, e teares domésticos, d’esse velho typo grego dos tempos de
Penelope tecedeira, cedem o logar aos teares mecânicos e a essa machina
de costura universalmente espalhada, que poupam tempo e trabalho e
habituam ás modas as raparigas. Nas povoações pouco afastadas
das sedes dos concelhos já as aldeãs se vestem á moda da villa ou da
cidade. Mas os velhos apegam-se ainda ás antigas usanças e nas serras
principalmente as tradições manteem-se. A serrana não deixou, pois, de
usar o linho, mesmo nas suas phases mais grosseiras, que são a estopa e
os tomentos. As faldas das camisas são por lá de estopa; o peito, as
costas e os braços de linho mais fino para mais durar. Em saias usa-se
também no Suajo ainda o linho, mas já são de algodão as camisolas e as
baetas. Empregam-se grosseiras e pouco cuidadas na serra as roupas
brancas, as ribeirinhas porém apreciam o luxo das camisas e das meias.
Trazem estas nos grandes dias camisolas de linho branco, bordadas na
gola, nas hombreiras e nos punhos, que põem á mostra sobre os vistosos
colletes de casimira vermelha, apertados á frente por um cordão de
siguilha e guarnecida de veludo preto com soutache e
lantejoulas, ou missanga. Entre o collete e a saia refega-se a camisa,
na cintura. Para outras bandas usam-se os colletes de riscado ou de
cotim, tendendo a desapparecer os de linho bordado, de côres vistosas.
Já passaram de moda, mesmo em Castro Laboreiro, as fachas de lã vermelha
que, á laia das peitoraes gregas, sustentavam sob o colete os
seios erectos. As meias são também de linho branco, feitas a agulha e
entreabertas ou bordadas á frente. No auge do inverno as da Ribeira e em quasi todo o anno as da Serra usam as piucas,
meias sem pés, em malha de lã, cobrindo a perna do joelho ao tornozelo.
Há-as com peito-de-pé, á maneira de polainas, e com presilha ou cabrestilho. Os jalecos e os casacos agaloados, com filas de botões, usam-se por todo o Minho, além do littoral entre Montedor e o Neiva.
Como sobrevivência dos antigos vestuários de lã trazem as mulheres e creanças castrenhas (de Castro Laboreiro) os bureis de rascadilho e o amantezado de lã e algodão. A lã tecida com a estopa produz a sirguilha de Lindoso e Suajo e a fraldilha
da serra d’Arga. E todos esses bureis são tingidos em riscas
longitudinaes, mas á medida que se vae descendo a serra para a beira-mar
as côres multiplicam-se e o listrado mistura-se com o enxadrezado. As
raparigas da Areosa (cujo costume é também adoptado nas freguesias das
margens do Lima, entre Ponte do Lima e Vianna) usam saia ás riscas, de
lã vermelha (na Afife e em Carreço á azul) com fios azues ou verdes,
urdida com algodão branco. Tal saia é curta, graças a Deus, deixando vêr
o tornezello e a meia, e ás vezes a curva d’uma linda perna. Tem o cós
ás prégas e na fimbria uma larga barra de pano escarlate ou, se o fundo é
azul, azul. As castrenhas usam sobre a saia de panno escuro um avental typico, o sanguidalho,
tendo o aspecto de um triangulo isósceles com o vértice para o pés. O
avental, na serra pouco usado ou curto, vae crescendo e vae-se
generalizando até o littoral; e é feito de chita grossa, agasalho,
riscado, lã, e até de veludo nas villas e cidades. As da Areosa
ostentam-no, de lã ou sirguilha, com barras enxaquetadas em côres
alacres. Sobre o fundo, em prégas como o cós da saia, bordam-se a
vermelho as iniciaes da possuidora, pentagramas ou hexagramas (signos de
Salomão), cruzes, corações, ancoras, ou a palavra amôr, em grandes e
carinhosas letras. Por cima do avental põe-se a algibeira, simples ou
com lavores, de uma ou mais côres. É de estopa, burel, casimira, cotim,
saragoça e até algodão, conforme os logares. Tem o corte de um coração. E
na beira-mar vianneza guarnecem-se de lantejoulas e missanga e com os
mesmos motivos do avental. Como cobertura para a cabeça adoptam as ribeirinhas do Lima o lenço
franjado, em fundo azul, ou ermelho, atado no alto e com as pontas
caindo para os lados. Os mantéus estão em desuso, revivendo ainda na capa castrenha, sem mangas nem gola.
JÓIAS E ADORNOS. OS CORAÇÕES
A minhôta abusa extraordinariamente das jóias e trá-las com ella,
sempre que para isso se lhe offerece pretexto. O seu dote fica assim
patente, sobre o seio creador, em volta do pescoço, pendente das
orelhas, como n’um mostruário de ourivesaria. Traz de tudo: trabalhos em
filigrana, laminados e granitados, contas de oiro, fios, gargantilhas,
cruzes, borboletas, broches e medalhões. Nas orelhas, um, dois e mais
pares de arrecadas, brincos, pingentes, argolas, brincos de fuso ou de
campainhas, e argolas á rainha. As arrecadas, as mais antigas joias do
Minho, circulares ou em crescente, são formadas de uma a varias lúnulas,
achatadas, espiraladas, granuladas, foliáceas, rosáceas ou roliças. Os
brincos á rainha são arrecadas annulares, em filigrana, com annexos
superiores dispostos como borboletas. Os brincos de fuso são, como o seu
nome indica, pingentes fusiformes, tendo a meia altura um annel
granulado. As argolas são… argolas ôccas ou massiças, com travessão liso
ou curvo. Como inovação há os brincos esmaltados. Para adornar o peito e
o pescoço não faltam os grilhões massiços, os fios de contas esféricos
ou ovaladas, os cordões de trança ou trancelins, as cadeias de grandes
argolas, d’onde pendem crucifixos aureolados, relicários em urna ou com
edílicos filigranados, imagens de casca de oiro, cruzes de malta,
borboletas, medalhas com imagens esmaltadas, e os infalliveis corações.
Na arte como na vida, o coração é o que a mulher minhôta mais aprecia. Não é apenas uma joia: é uma mania. A sanguidalha
castrenha aproxima-se da fôrma de um coração. Desenha-se o coração em
certas arrecadas; borda-se na barra das saias e nos linteus dos
aventaes; estampa-se nas guarnições dos lenços que põem sobre os hombros
e traçam ante o peito. Os chales que trazem as das villas, dobrados em
diagonal e descaídos nas costas do que nos hombros, ainda vistos de traz
se assemelham a corações. Algumas candeias e algumas rocas querem
imitar corações. As algibeiras são corações. As pregadeiras são
corações. As espadellas são corações. E os pesos dos teares corações
são! Ai! o coração da minhota não tem socego. Com elle brinca, mas por
elle sofre. As da serra, muito ariscas, trazem-no encolhido, apertado no
peito, bem agasalhadinho no seu manteu. É um coração pequenino, que não
sente o mundo, e todo se compraz no conchego do lar, entre a rôca onde
se esfia a estopa, e o fuso, onde se enrola o fio. Coração de Penelope
caseira. Por cá, pelo littoral, o coração é vasto como o vasto mar. Não
cabe no peito. Sóbe á cabeça, desce ao avental. Coração de Vénus
amorosa, saída das ondas do mar. Uma voz canta:
Toma lá meu coração,
Retalha-o em três pedaços…
E o coração da ribeirinha anda retalhado, á mercê de Deus. Segue-lhe
os caprichos, mas não o abandona nunca. Quer vê-lo, senti-lo,
encontrá-lo em tudo o que toca, quando espadela o seu linho, quando
borda o seu bragal, quando tece a sua teia, quando cose, quando fia,
quando conta, quando ao lume scisma no que há de vir. Pelas estradas, ao
entardecer religioso dos domingos campestres, os pares de conversados
suspendem-se n’um doce enleio: ella, de cabeça inclinada, tenteando com
os dedos a franja do avental, e elle, a distância de respeito, voltado
para ella, apoiado ao varapau, sorrindo, com uma flôr na mão… Já o sol
se vae sumindo, já as vidraças não reluzem, já o balar das ovelhas
parece mais distante e dormente. Os pássaros recolhem aos ninhos. A
branca estrada escurece. A crista dos montes esfuminha-se no céu. Hora
profunda, indecisa… Profundo e indeciso amôr… Mal se ouve a voz cantar
ao longe:
Um que vá, outro que venha,
Outro que siga os teus passos.
Não te fiques assim parada, cachopinha. Regressa ao lar. Olha que o
amôr tem settas. Diverte-te mas não te tentes. Repara na cruz que trazes
no peito. Não é para rezar, pois não? É para enfeite… Ah! É? Ora a
vaidosa!