AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA
Camillo Ferreira Botelho Castello Branco
(Lisboa, 16 de Março de 1825 – 1 de junho de 1890)
Senhôra ! O Vosso altar já foi sacrário
De riquezas do Céu, que o Céu Vos dava
Em prol de Portugal.
Em câda português Tínheis um filho,
De tôdos Éreis Mãe, e refúgio de tôdos,
Nas angústias do mal.
No Vosso Coração Imaculado
As lágrimas da dôr tinham asilo,
Ó Rainha dos Céus !
As lágrimas , com o Vosso patrocínio
Erguiam-se da terra, qual perfume,
Ao Trôno do mêu Dêus !
Em transes d’aflição, nos grandes riscos,
No afôgo das pelejas duvidosas,
O Vosso nôme se ouvia :
As tramas orgulhosas, destemidas,
Afrouxavam nas mãos dos inimigos,
Ao nôme de Maria!
Lá nas iras do mar, quando o sepulcro,
Ao convulso baixel a tempestade,
Nos recifes abria,
Azulavam-se os céus, fugia a nuvem,
Voava a viração, vinha a bonança
Ao nôme de Maria !
Quando em leito de pálida doença,
Febril enfêrmo abandonado e triste
Sem esp’ranças jazia ,
De nôvo o coração lhe palpitava,
Erguia-se robusto, as mãos erguendo
Ao nôme de Maria!
Donzela que a chorar passara noites,
De saudades, por quem tamanho afecto
Lhe não agradecia ,
Lá vinha a sêr feliz com quem amara,
Pois dera o sêu futuro em segurança
Ao nôme de Maria !
E a carinhosa mãe, que o filho amado
Dos sêus amigos braços para a guerra
Chorando, despedia ,
Joelhava-se depois, ante o oratório,
E a vida do sêu filho confiava
Ao nôme de Maria!
E o sêu filho, mais tarde, em vivas ânsias ,
À porta do sêu lar, com a mão tremente,
Receôso, batia ,
Nos braços maternais contava, ufano,
os Triunfos que tivera sôbre a morte,
Ao nôme de Maria !
O nôme de Maria hôje invocamos,
Nós, os filhos dêsses homens d’outras eras,
Que morreram na fé !
Senhôra ! Protegei os nossos trabalhos !
Sem a protecção do Céu, o esfôrço humano
Baldado esfôrço é !
No coração dos vossos portuguêses
Despertai o temôr *, tão vivo um dia,
No porvir imortal.
Do Vosso Resplendôr , a Luz das crenças,
Descei sôbre êste solo escuro e pobre ...
Salvareis Portugal !
* A consciência de que estamos de Passagem e de Regresso á Casa do Pai