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22/07/2011

A Jornada de África e O Desejado ...


MENDONÇA (HIERONIMO DE)- JORNADA DE ÁFRICA
Copiado fielmente da edição de Lisboa de 1607, por Bento José de Sousa Farinha. Lisboa. Offic. De José da Silva Nazareth. Ano de MDCCLXXXV (1785). In- 8º de 16- 275-IV pags. B. Jerónimo Mendonça ou ( Hieronimo de Mendoça) acompanhou a África el-rei D. Sebastião, e foi feito prisioneiro na Batalha de Alcácer- Quibir em 1578. Depois de resgatado voltou para Portugal aonde escreveu como testemunha ocular d'aquela jornada de África, que dedicou a D. Francisco de Sá e Meneses, senhor de Penaguião em 20 de Janeiro de 1607. 


Entre 1584 e 1598, a história regista o surgimento de quatro falsos D. Sebastião, que tentaram, com pouca verosimilhança e nenhuma sorte, fazer-se passar pelo Rei Desejado. Alimentaram o mito e foram objecto, pelo menos três deles, de tentativas de dramatização com resultados muito desiguais, no ponto de vista teatral. Essas peças estão quase todas tão esquecidas como os aventureiros que lhes deram o tema...

Com a excepção de "O Encoberto" (1969) de Natália Correia, texto oscilante entre um simbolismo barroco e algo próximo do teatro narrativo, mas de indiscutível força poética, não obstante a exuberância, violência, por vezes a tocar o blasfemo, da estrutura e da linguagem. Reconstitui, com total liberdade criativa, as aventuras, essas sim, amplamente documentadas, do calabrês Marco Tulio Catizone. Como dissemos, de nada lhe valeu a aventura.


Natália transforma Marco Tulio num actor  de mísera expressão, integrado numa  companhia ambulante não por acaso denominada "O Purgatório dos Comediantes". Marco Tulio usa em cena o nome de Bonamis, e tem como parceiros principais a sua amante Floriana e um coro de três “catadeiras” que  conferem à peça a sua dimensão próxima do teatro épico, através de poemas e canções intercalares. O actor e o personagem alternam habilmente posições, que se projectam na conduta e na linguagem: oscilam entre a figura do Rei, que como tal se exprime, e a do comediante desgraçado, ao serviço de um publico miserável que o não entende. E surgem, como comparsas da grande burla humana e politica, personagens históricas, como D. João de Portugal.




Bonamis desdobra-se assim entre os dois papeis existenciais, o do rei destronado e o do actor-aventureiro burlão. Até que ponto o desdobramento é sincero, o espectador ajuizará: sendo   certo, tal como já dissemos, que a linguagem se transforma de acordo com a personagem que, alternadamente, Bonamis encarna.

Com uma técnica claramente brechteana, a peça abre com a canção de Floriana,  denominada precisamente "O Romance da Moura Huria": estamos aqui em plena representação teatral, mas que indicia ou anuncia o embuste em que Marco Tulio se envolve:

"Andando a apanhar rosas / num rosal que meu pai tinha / vi os cativos cristãos / que de Alcácer Quibir vinham / No rosal que meu pai tinha / um espinho me picou: / era o olhar de um cativo / que logo me cativou. / Ai triste de mim coitada! / chorava e tinha razão / que em sujeição que doía / era Dom Sebastião / quem ao Xerife meu pai / de joelhos o servia."

Aqui, estamos no imaginário teatral. Mas a partir dele, Marco Tulio-actor transforma-se em Marco Tulio-Rei Desejado. E aí , aparece , o mito e a profecia oculta: 

«  Vejo vir o Encoberto / que há-de expulsar os tiranos (...) / é um muro a nossa fé / no Rei Dom Sebastião.    ...  »



A peça desenvolve toda a intriga histórica, a partir das intervenções de Filipe II, Frei Diego, Cristóvão de Moura e uma comparsaria de nobres, banqueiros e povo. E a síntese política e simultaneamente, a mensagem ocultista do Encoberto, é D. João de Portugal que a transmite, assumindo-a em "recomendações" ao Bonamis actor e Rei:

«  Que sobreviva a esperança no regresso do rei Encoberto. Se morreres como D. Sebastião, contigo se extingue toda a miragem da liberdade para este povo. Incrível e intemporal, esse rei de lenda é para os oprimidos a sensação de um grito por dar ...  »



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